A dor (e o poder) de não ser escolhida

Faces da Beleza #038

Olá, querida leitora!

Neste domingo, quero te trazer uma reflexão:

Quantas vezes, ao longo da vida, você enfrentou a rejeição?

Talvez numa amizade, num relacionamento, numa oportunidade de trabalho… ou até numa situação em que você nem imaginava estar sendo avaliada.

Nem sei quando foi a primeira vez que percebi que não era o centro do universo e que nem sempre seria a escolha de todos.

A verdade é que todas nós, em algum momento, já experimentamos essas experiências dolorosas (mas necessárias) de rejeição.

Como cirurgiã plástica, vivi algumas dessas situações. Principalmente, de pacientes que me procuraram, mas decidiram operar com outro profissional.

E confesso: mesmo após tantos anos de carreira, ainda sinto um gosto amargo quando isso acontece.

Hoje quero compartilhar com você algumas lições que tirei dessas experiências.

Acredito que também possam te ajudar a encontrar maneiras de lidar com esse sentimento e seguir em frente, mais forte e confiante.

Vamos lá?

Quando não somos escolhidas

Eu já contei, em outra edição dessa newsletter, que trabalhava em um hospital bem longe da minha casa, em um bairro a 45km de distância — na região de Bangu e Padre Miguel.

Em abril de 2000, eu tinha uma cirurgia marcada com uma paciente chamada Angélica. Seria uma combinação de procedimentos nas mamas e no abdômen — lembro de anotar no meu caderninho, separado por semanas, o nome de cada paciente, a cirurgia que iria fazer e o telefone fixo para contato.

Bom, reservei a data, organizei minha equipe, me preparei para cada etapa e estava pronta para ajudá-la a realizar seu sonho.

Na manhã da cirurgia, fiz uma viagem de mais de 45km da minha casa até o hospital. Cheguei, encontrei os outros profissionais e... Descobri que Angélica não havia sido internada.

Ela sequer estava no hospital. 

Liguei para o telefone fixo dela, que tinha anotado no meu caderninho, e quem atendeu foi a funcionária da casa, dizendo:

“A Angélica não pode atender, está se recuperando de uma cirurgia e não consegue descer as escadas até aqui”

Naquele momento, senti como se tivesse levado um soco no estômago.

Não senti raiva por não ter sido avisada. Nem vergonha por ter mobilizado toda a minha equipe à toa.

O que senti foi a dor silenciosa de não ter sido escolhida.

Era uma sensação de fracasso, de não ter sido capaz de atender às expectativas da paciente.

Fiquei me perguntando: "Onde foi que falhei? O que deixei de oferecer? Por que ela preferiu outro profissional?”

A partir daquele dia, passei a sempre confirmar a internação do paciente antes de sair de casa.

Mas o sentimento de rejeição... Esse ficou guardado em mim.

Você já viveu algo parecido? Aquela sensação de que não foi boa o suficiente, de que falhou de alguma forma?

É um sentimento difícil, totalmente irracional e que imagino que tenha como origem alguma experiência que passei na minha infância… Mas todos nós enfrentamos essa dor em algum momento.

Eu sei que não faz sentido algum esperar que todos os pacientes me escolham, mas confesso que aqueles que se preocuparam em me avisar que haviam escolhido outro cirurgião, e os motivos para isso, sempre tiveram um espaço especial na minha mente.

Mas, infelizmente, nem todos têm esse cuidado.

Por isso, é importante pensar em como podemos encarar essas situações de uma maneira mais leve e racional.

Sem ignorar a dor, mas escolhendo não deixá-la nos definir.

A influencer em busca de um explante

Recentemente, uma influencer bastante conhecida me procurou para saber mais sobre o explante de silicone.

Fizemos uma consulta online — daquelas em que a gente sente que conseguiu entregar tudo — e procurei dar o máximo de informações possíveis.

Fui totalmente transparente, como sempre: expliquei o que ela podia esperar do procedimento, os riscos envolvidos e o que seria necessário para alcançar um bom resultado.

Ela até marcou uma consulta presencial para este mês, mas acabou desmarcando.

Pouco tempo depois, vi uma notícia em um site de fofoca de que ela havia feito o explante com outro profissional.

Confesso que a rejeição bateu novamente. Por um instante, me perguntei: "por que ela não ME escolheu?".

Mas logo em seguida, lembrei do que aprendi com casos anteriores e procurei razões racionais para a escolha dela.

Durante nossa conversa, expliquei que o explante tem melhores resultados estéticos quando há uma boa quantidade de tecido mamário — o que não era o caso dela.

Também alertei sobre algo importante: ela queria amamentar novamente, e isso poderia ser afetado. Além disso, ainda seria necessário esperar seis meses após o fim da amamentação do seu último filho para operar com segurança.

Talvez não era isso que ela queria ouvir naquele momento…

Talvez ela tenha se identificado mais com a abordagem de outro médico…

Ou tenha achado mais conveniente operar em outro lugar…

São muitas as variáveis que influenciam uma decisão como essa.

Dessa vez, foi muito mais fácil do que há 25 anos porque aprender a lidar com isso é um processo contínuo.

Mesmo após tantos anos de carreira, ainda sinto o impacto quando não sou escolhida. Mas hoje, consigo lidar com esses sentimentos de uma forma muito mais leve e equilibrada.

Agora, vou compartilhar um momento da minha vida em que, mesmo fragilizada, eu soube com certeza: eu me escolheria como cirurgiã.

O dia em que eu me tornei a paciente

Em 2016, passei por uma cirurgia para colocar implantes mamários. Escolhi com muito cuidado a cirurgiã que iria me operar, uma profissional incrível de outro estado — e ela veio até o Rio de Janeiro especialmente para realizar meu procedimento.

No entanto, 17 dias após a cirurgia, enfrentei uma complicação.

Tive um acúmulo de líquido nas mamas (seroma), com suspeita de infecção. Precisava de uma punção, mas não conseguia pensar em ninguém além de mim mesma para fazer o procedimento.

Naquele momento, tive certeza de que eu era uma boa médica.

De que eu confiava plenamente nas minhas habilidades e no meu conhecimento.

De que eu escolheria a mim mesma como cirurgiã.

Foi um momento de grande vulnerabilidade, mas também de imenso crescimento pessoal e profissional.

Percebi que, apesar das rejeições que já havia enfrentado, eu acreditava no meu trabalho e na minha capacidade de cuidar dos meus pacientes.

Essa certeza me fortaleceu e me ajudou a lidar com as rejeições de uma forma muito melhor.

Porque, no final das contas, se eu não confiar em mim mesma, como posso esperar que os outros confiem?

A chave para lidar com a rejeição

Querida leitora, quero que você também desenvolva essa autoconfiança. Que você olhe para dentro de si e reconheça:

  • Sua própria competência

  • Seu valor

Porque quando nos escolhemos primeiro, ficamos muito mais fortes para enfrentar qualquer coisa que a vida possa nos trazer.

Ao longo desta newsletter, compartilhei com você algumas das minhas experiências pessoais com a rejeição — que, mesmo com anos de experiência e milhares de cirurgias, ainda sinto. Ainda duvido. Ainda me questiono.

Mas o ponto principal que quero trazer é:

A rejeição faz parte da vida, e a melhor forma de lidar com ela é desenvolvendo confiança em nós mesmas.

Quando nos valorizamos, a opinião dos outros perde o poder de nos abalar.

Claro, ainda sentimos o impacto, mas conseguimos encarar esses momentos com mais leveza e aprender com eles.

Então, meu convite para você hoje é: escolha a si mesma todos os dias.

Olhe para suas qualidades e suas conquistas. Celebre cada parte de você, incluindo suas imperfeições e vulnerabilidades.

Porque quando nos tornamos nossa própria referência, ficamos muito mais fortes para enfrentar qualquer “não” que a vida traga.

Os desafios parecem menos assustadores.

E a rejeição, bem, ela se torna apenas mais um capítulo da nossa história e uma oportunidade de crescimento.

Lembre-se: você é incrível exatamente como é, e merece ser amada, valorizada e escolhida. Isso começa por você mesma.

Nos vemos na próxima semana.

Com carinho,

Dra. Luciana Palma (Lu) 🤍

Enriquecendo a alma

📚 Livro que estou lendo:
O Idiota por Dostoiévski

🎬 Filme que recomendo:
O Brutalista

🎬 Série que estou assistindo:
Adolescência 

🎧 O que tenho ouvido:
Michael Singer Podcast

Quem é a Dra. Luciana Palma

Deixa eu me apresentar a você que chegou aqui agora.

Muito prazer! Sou a Luciana (Lu), cirurgiã plástica especializada em cirurgia das mamas, com mais de 23 anos de experiência na área. Formada pela UFJF em 1993, realizei residência em cirurgia geral e no INCA, no Rio de Janeiro.

Desde 2001, me dedico à Técnica de Mastopexia com cicatriz reduzida em L, buscando resultados estéticos superiores com menor invasividade.

Com mais de 5 mil cirurgias realizadas, sou preceptora de Serviços Credenciados da SBCP e coordeno o Curso Mama em L, compartilhando minha experiência com outros cirurgiões plásticos.

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