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A maternidade diante do bisturi e da dor
Faces da Beleza #040
Feliz Dia das Mães antecipado, querida leitora!
Ser mãe — e cuidar de mães — sempre me emocionou profundamente.
Nesta edição especial da newsletter, quero te convidar a refletir comigo sobre as muitas formas de viver a maternidade a partir da minha experiência como cirurgiã plástica, filha e mãe.
Ao longo dos meus 21 anos de carreira, acompanhei centenas de mulheres em diferentes fases da vida materna. Seja ajudando mães a recuperarem a autoestima após a gestação ou apoiando filhas a aliviarem desconfortos físicos e emocionais através da cirurgia...
Pude testemunhar de perto a força extraordinária do amor materno e me sinto privilegiada por, através das minhas mãos, conseguir realizar o sonho de muitas dessas mulheres.
Hoje, abro meu coração para dividir com você momentos e histórias marcantes que me fizeram crescer não apenas como médica, mas também como mulher e mãe.
Então, pegue uma xícara de café ou chá para ler essa mensagem.
A relação da cirurgia plástica com a maternidade
Quando comecei a atender pacientes em busca de cirurgia plástica, lá em 1998, algo me chamou a atenção: a frequência com que mulheres insatisfeitas com suas mamas ou abdômen após a gravidez culpavam seus filhos por essas mudanças.
Frases como "depois que tive meus filhos, meu corpo nunca mais foi o mesmo" eram comuns nos consultórios. E pior: muitas vezes, essas queixas eram feitas na presença das crianças.
Aquilo me assustou tanto que, em janeiro de 2000, ao descobrir minha primeira gravidez, pedi ao meu marido que me fotografasse de biquíni.
Queria lembrar do meu corpo antes da gestação, de todas as minhas “queixas” — e nunca, jamais, culpar meu filho por qualquer transformação futura.
Hoje, existe até o "mommy makeover" (um procedimento que combina abdominoplastia, mamaplastia e lipoaspiração), que se tornou popular entre as mães — mesmo sendo cada vez menos aceito fazer cirurgias associadas pelos riscos e cuidados no pós-operatório.
Por mais que eu entenda o desejo de recuperar a autoestima, sempre fiz questão de separar a maternidade das mudanças corporais naturais da vida.
Gerar um filho é um ato de amor que transforma muito mais do que o corpo.
E como mãe e médica, acredito que nossa missão é ajudar cada mulher a enxergar sua beleza — além do espelho.
Quando eu ainda era mais filha do que mãe
Durante minha formação em cirurgia plástica no INCA (Instituto Nacional de Câncer), tive a oportunidade de trabalhar extensivamente com reconstrução mamária em pacientes oncológicas.
Foi um período de aprendizado intenso, não apenas técnico, mas também emocional.
Ver aquelas mulheres, muitas vezes tão jovens, enfrentando um câncer de mama, me fez refletir sobre a dor de suas mães. Esse tópico também é sensível para mim porque minha irmã teve câncer de mama muito jovem, aos 36 anos.
Eu tinha 34 anos na época, meus filhos eram bem pequenos e eu vi o sofrimento da minha mãe com a doença da filha mais velha.
Essa situação me fez me enxergar mais em cada mãe que via levar suas filhas ao centro cirúrgico.
Eu sentia aquela dor e cada lágrima derramada por aquelas guerreiras. E tenho certeza que todas trocariam de lugar com suas filhas, se fosse possível.
Uma paciente em particular marcou minha trajetória nesse sentido. Vou chamá-la de “F”.
F era uma jovem cheia de vida, que enfrentou o câncer com muita coragem. Tive o privilégio de realizar sua reconstrução mamária e construir um vínculo especial com ela e sua mãe — que vou chamar de “C".
Infelizmente, dois anos após a cirurgia, F. faleceu por conta da doença. Mas C. seguiu vindo ao meu consultório para realizar procedimentos estéticos.
Ela não vinha por vaidade. Ela vinha por saudade.
Ela morava longe, tinha fácil acesso a outras profissionais que podiam fazer seus procedimentos estéticos…
Mas mais do que cuidar da própria aparência, tenho certeza de que ela continuava comigo porque queria manter viva a conexão com a filha que partiu — que sempre ficava feliz em me ver por, de certa forma, eu ajudá-la a amenizar seu sofrimento.
Aquele elo, construído na dor compartilhada entre mãe e filha, me ensinou que a beleza da maternidade vai muito além da estética.
Está nos gestos de amor, na presença constante, na força que une essas mulheres diante dos maiores desafios.
Naquele momento, eu entendi: a maternidade continua — mesmo quando a presença física não está mais ali.
A dor de ser mãe
Ao lado de tantas mulheres enfrentando o câncer de mama, eu inevitavelmente me colocava no lugar delas.
Como seria enfrentar uma doença tão séria tendo filhos que dependem de mim?
A angústia de pensar em não estar presente para cuidar dessas crianças, de perdê-las precocemente, de não ter a oportunidade de assumir seu papel na vida deles… É dilacerante.
Mas esse mesmo medo é também o motor da força de muitas mães.
Cada sessão de quimioterapia…
Cada cirurgia…
Cada etapa do tratamento…
É encarada como um passo em direção à vitória. Não por elas mesmas, mas pelos pequenos que as esperavam em casa.
A força em lutar por sua vida é impulsionada pela necessidade de superação e cura quando se imagina cuidar de uma criança.
Testemunhar essa garra me fez perceber que a maternidade transcende o corpo físico. Ela habita o espírito indomável de uma mãe, capaz de mover montanhas pelo bem-estar de seus filhos.
E é essa força, tão íntima e ao mesmo tempo tão universal, que me inspira diariamente.
Como mãe e médica, busco honrar a coragem dessas mulheres extraordinárias, ajudando-as a resgatar sua essência para além das cicatrizes.
A cirurgia que transformou a vida da filha da minha paciente
Quando falamos em cirurgia plástica, é comum pensar apenas em procedimentos estéticos. Mas há um universo de intervenções que, mesmo não sendo emergenciais, têm o poder de transformar vidas de forma profunda.
É o caso das cirurgias mamárias em adolescentes, por exemplo.
Imagine uma jovem que, desde cedo, convive com mamas assimétricas, muito grandes/pequena ou caídas. Algo que, aos olhos de muitos, pode parecer trivial, mas que para ela representa um fardo diário capaz de diminuir sua autoestima.
Quando essas meninas chegam aos consultórios acompanhadas de suas mães, buscando uma solução, é preciso ter empatia e cuidado redobrados. Afinal, submeter uma filha a uma cirurgia eletiva não é uma decisão fácil para nenhuma mãe.
Recentemente, vivenciei um caso que trouxe essa reflexão à tona.
Uma ex-paciente oncológica, que tratei há mais de 14 anos, retornou ao meu consultório com sua filha adolescente. A menina, que cresceu vendo a mãe superar o câncer de mama, agora enfrentava suas próprias inseguranças com as mamas excessivamente grandes e caídas aos 16 anos.
Informada de todas as consequências de operar nesta idade, ponderamos que a cirurgia traria sim muitos benefícios para ela, mas essa não foi uma decisão fácil para aquela mãe.
Conhecendo bem a dor de conviver com um corpo que não reconhece como seu, ela apoiou a filha na busca pela cirurgia. Mesmo temendo julgamentos alheios, ela priorizou o bem-estar e a autoestima da sua menina, como um dia sua própria mãe havia feito por ela.
Casos como esse me fazem ver o quão longe uma mãe pode ir por amor.
E me sinto honrada em fazer parte de momentos como esse, oferecendo soluções seguras e eficazes para que cada mulher floresça em sua melhor versão.

Mensagem que recebi da mãe de outra paciente adolescente
A beleza que cura
Querida leitora,
Chegamos ao fim desta edição especial, dedicada à maternidade em suas múltiplas facetas. Espero que essas reflexões tenham tocado seu coração e lhe inspirado a celebrar a força extraordinária das mães.
Seja no consultório, ajudando mulheres a se reconectarem com sua essência após a gravidez, seja na vida pessoal, aprendendo diariamente com a coragem das minhas pacientes e da minha própria mãe, uma certeza me acompanha: a maternidade é a mais bela e desafiadora das jornadas.
Neste Dia das Mães, quero homenagear todas as guerreiras que doam suas vidas em prol dos filhos.
Às mães que enfrentam o câncer com bravura, às que apoiam as filhas em busca da autoestima, às que se reinventam a cada fase da maternidade: meu mais profundo respeito e admiração.
E a você, filha e/ou mãe, deixo meu desejo de que você possa se olhar com a mesma empatia e amor incondicional que só uma mãe tem.
Pois é nesse olhar que reside a verdadeira beleza, capaz de curar feridas e transformar destinos.
Nos vemos na próxima semana.
Com carinho,
Dra. Luciana Palma (Lu) 🤍
Enriquecendo a alma
📚 Livro que estou lendo:
O Idiota por Dostoiévski
🎬 Filme que recomendo:
O Brutalista
🎬 Série que estou assistindo:
Adolescência
🎧 O que tenho ouvido:
Michael Singer Podcast
Quem é a Dra. Luciana Palma

Deixa eu me apresentar a você que chegou aqui agora.
Muito prazer! Sou a Luciana (Lu), cirurgiã plástica especializada em cirurgia das mamas, com mais de 23 anos de experiência na área. Formada pela UFJF em 1993, realizei residência em cirurgia geral e no INCA, no Rio de Janeiro.
Desde 2001, me dedico à Técnica de Mastopexia com cicatriz reduzida em L, buscando resultados estéticos superiores com menor invasividade.
Com mais de 5 mil cirurgias realizadas, sou preceptora de Serviços Credenciados da SBCP e coordeno o Curso Mama em L, compartilhando minha experiência com outros cirurgiões plásticos.
Para agendar uma consulta, te convido a clicar aqui.
Dra. Luciana Palma: RJ CRM 5258334-2 | RQE 17595
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