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A Relação entre Médica e Pacientes Além do Consultório

Faces da Beleza #006

Querida leitora,

Hoje gostaria de compartilhar com você um momento muito especial da minha vida — uma história que é simultaneamente pessoal e profissional, repleta de emoçõesdesafios e lições preciosas.

Como cirurgiã plástica especializada em cirurgias das mamas, meu trabalho vai muito além dos procedimentos técnicos.

Meu trabalho envolve a construção de um vínculo profundo com cada paciente, acompanhando-a em suas batalhasmedos e, acima de tudo, sua esperança de reconstruir a autoestima e a plenitude em suas vidas.

Nesta jornada, aprendi que a beleza verdadeira transcende a aparência física. Ela reside na força interior, na coragem de enfrentar os obstáculos e na capacidade de encontrar significado mesmo nos momentos mais desafiadores.

Por isso, hoje, quero convidar você a embarcar comigo em uma história profundamente comovente e inspiradora.

Essa é uma história que tocou meu coração de forma inesquecível e reforçou meu propósito de estar presente para minhas pacientes, não apenas como médica, mas também como companheira nesse caminho cheio de altos e baixos.

Aviso desde já: prepare-se para refletir e, acima de tudo, nutrir a esperança em meio às adversidades da vida.

Porque, mesmo nos momentos mais sombrios, há sempre uma luz a nos guiar.

A História de “Marcella” e “Eliane”

Ontem fiquei lembrando muito de uma paciente chamada “Marcella”, que não retornou ao consultório no ano passado, após as revisões iniciais da cirurgia de reconstrução de mama.

Acometida pela doença que exigiu a retirada de sua mama, imaginei que talvez ela tivesse dado um tempo dos médicos e consultas, buscando prosseguir sua jornada de cura.

É um comportamento compreensível e comum diante de desafios tão árduos.

Sempre respeitei profundamente o vínculo construído com minhas pacientes, evitando exercer qualquer pressão desnecessária.

Contudo, após transcorrido um longo período sem notícias de Marcella, decidi investigar o que poderia estar acontecendo.

O primeiro sinal de alerta foi não encontrar mais sua foto sorridente no perfil do WhatsApp. 

Ao verificar nossa última conversa sobre seu horário de chegada na clínica, deparei-me com o sumiço daquela imagem inspiradora:

Sua foto ostentava um sorriso escancarado e corajoso, usando o seu turbante para disfarçar os efeitos da quimioterapia. Aquela imagem tão vívida em minha mente foi substituída por um frio e simples ícone cinza.

Imediatamente, um alarme soou dentro de mim.

O que antes era mera curiosidade se transformou em genuína preocupação.

Parti, então, para obter notícias através de Eliane, a dedicada mãe que fez o primeiro contato para agilizarmos o tratamento de sua amada filha.

Eliane não era apenas uma colega médica ou paciente — nosso relacionamento estreitou-se em uma profunda relação de confiança ao longo dos anos.

Conheci Eliane em 2005, quando ela também enfrentava um câncer de mama agressivo. Naquela época, eu era uma jovem cirurgiã plástica lidando com um desafio pessoal igualmente impactante.

Alguns meses após tratar Eliane, ajudei minha própria irmã, de apenas 36 anos, a descobrir o câncer de mama.

Inicialmente, cega pela proximidade e negação, não valorizei devidamente seus primeiros sintomas.

Só quando realizamos uma mamografia é que o diagnóstico se confirmou, partindo então para um tratamento urgente naquele estágio inicial.

Tanto eu quanto Eliane compartilhávamos angústias e temores semelhantes.

Naquela época, Eliane temia que a doença pudesse retornar, ameaçando-a com metástases.

O medo de deixar Marcella, sua filha ainda adolescente, também assombrava Eliane profundamente.

E eu vivia o pavor de testemunhar minha mãe sofrer novamente com um câncer na família devido à minha irmã.

O tempo seguiu seu curso, as curas se estabeleceram e projetos de esperança passaram a se concretizar.

Eliane retornou anos depois para realizar cirurgias estéticas de rejuvenescimento facial.

A cada visita ao consultório, seu sorriso revigorado reforçava minha crença de que alguns medos são, de fato, completamente inúteis diante da força interior que podemos descobrir.

Até que nos encontramos novamente em uma situação de enorme fragilidade

Eliane estava curada, sim, mas desta vez era Marcella quem enfrentava a ameaça daquela doença implacável.

Com a mesma determinação inabalável que a guiou em sua própria batalha, Eliane se agarrou à esperança de que sua filha pudesse superar o câncer agressivo, tal como ela havia conseguido anos antes.

Foi então que, em uma de nossas conversas, encontrei um áudio não ouvido, sinalizado como recebido na véspera de uma viagem que fiz para a Bahia.

Envolvida com os preparativos, acabou passando batido aquela mensagem no momento. Mas como eu gostaria de tê-la escutado!

Com a voz embargada pela dor, Eliane me contava que, após episódios de dores de cabeça intensas, elas procuraram uma emergência médica. E foi lá que receberam o avassalador diagnóstico, com um prognóstico sombrio.

Nas palavras de Eliane, ela acreditava que eu deveria saber da condição de Marcella, dada a profunda relação de confiança e amizade que construímos.

Mas eu não ouvi o áudio naquele momento.

Aquela mulher que, para mim, representava a vitória contra as maiores adversidades, curada de um câncer tão difícil, era agora vítima da dor suprema de perder um filho. E naquele momento crucial, eu não estive presente para ampará-las.

Tentei ligar, mas Eliane respondeu que ainda não conseguia falar, tamanha era sua dor.

Depois, ela enviou uma mensagem assim:

“Oi, Luciana, imaginei que você não soubesse.
Minha filha partiu dia 4 de janeiro após 3 meses internada.
Sofremos muito, ela e nós, nestes 3 meses.
Agradeço sem fim a você e ao Fred.”

Esperança e Superação

Agora o papel de Eliane na minha vida mudou novamente.

Não é mais somente a mulher que superou a própria doença agressiva tão lindamente.

Eliane faz parte do meu imaginário de outro tipo de superação.

Ela precisa se apegar à Graça da vida com as forças que ela escolher e conseguir ter.

Pra mim, ela vai continuar ocupando este papel de esperança, reforçado agora pela certeza de que não escolhemos qual desejo será realizado.

Tirei um bom tempo para refletir sobre tudo o que aconteceu e sobre as lições profundas que essa jornada trouxe para mim.

A primeira delas é sobre a natureza imprevisível da vida.

Por mais que tentemos controlar cada detalhe, haverá momentos imprevistos que testarão nossa força de maneiras inimagináveis.

O câncer é um desses grandes desafios que pode surpreender a qualquer momento, desestabilizando nossos planos e sonhos num piscar de olhos.

No entanto, é justamente diante dessas aleatoriedades indesejadas que somos chamados a encontrar nossa verdadeira essência.

Elas nos forçam a olhar para dentro e descobrir as reservas de coragem, resiliência e fé que habita em nós.

Lembro-me de como o medo me consumia quando minha irmã foi diagnosticada. O futuro parecia nebuloso e ameaçador.

Mas, ao testemunhar sua incrível jornada de cura, aprendi que a esperança pode florescer mesmo no solo mais árido.

Eliane também me ensinou essa lição de forma extraordinária…

- Primeiro, ao vencer sua própria batalha contra o câncer agressivo.

- E depois, ao se recusar a desistir quando a doença ameaçou sua filha.

Sua determinação inabalável de acreditar na cura, de buscar tratamentos e se manter firme ao lado de Marcella é uma inspiração para mim — e acredito que para você também.

No entanto, por mais resilientes que sejamos, nem sempre os desejos se realizam da forma esperada.

O sofrimento de Eliane com a perda de sua filha tão amada é uma prova disso.

Um lembrete doloroso, porém necessário, de que nem todas as batalhas podem ser vencidas, por mais que lutemos.

Mas é aí que reside a maior lição de todas: mesmo diante da dor mais profunda, podemos escolher a esperança.

Essa é a força que impulsiona nossas almas e nos permite seguir em frente, um passo de cada vez.

Eliane terá que descobrir uma nova fonte de graça interior para lidar com essa perda dolorosa.

Uma nova definição de esperança que a ajude a reconstruir os sonhos desfeitos.

E eu, como amiga e médica, permanecerei ao seu lado, compartilhando meu abraço acolhedor e minha fé inabalável de que a luz sempre renasce, mesmo depois da noite mais escura.

Porque essa é a maior verdade que pude extrair dessa história de vida: a esperança está sempre presente, mesmo que disfarçada.

Ela é o combustível que alimenta nossas forças para continuar a jornada, não importam os obstáculos.

Então, querida leitora, permita que essa mensagem aqueça seu coração.

Que ela seja um lembrete constante de sua capacidade inata de superar.

Porque você é uma guerreira, dona de uma fortaleza muito maior do que imagina. E juntas, fortaleceremos nossa determinação de nunca deixar que a escuridão tenha a última palavra em nossas vidas.

É com esse espírito de renovação da fé que seguirei em diante — e espero que você também.

O Papel do Médico como Confidente

Contar a história de Marcella, Eliane e nossas jornadas entrelaçadas me fez refletir profundamente sobre o verdadeiro papel que exerço como médica.

Muito além dos procedimentos técnicos e do conhecimento científico, sinto que minha missão mais nobre é ser uma confidente para minhas pacientes.

Alguém em quem elas possam se apoiar não apenas fisicamente, mas também emocionalmente.

Afinal, os desafios que enfrentamos com nossa saúde e nossa aparência estão intimamente ligados às nossas emoções, medos e inseguranças.

Quantas vezes já ouvi relatos de mulheres que se sentiam diminuídas ou envergonhadas por certas condições?

Nesses momentos, simplesmente ouvir com empatia faz toda a diferença.

Validar seus sentimentos, compartilhar um olhar acolhedor e dizer:

“Entendo o quanto é difícil. Mas você é uma mulher forte e corajosa, que está trilhando um caminho de renascimento.”

Porque, no fim das contas, o que realmente importa é ajudá-las a reconstruir sua autoestima e seu amor-próprio.

Foi isso que visei fazer com Marcella durante nosso tempo juntas. 

Celebrar sua força diante da adversidade, seu sorriso destemido mesmo nos piores momentos.

Ajudá-la a se reconectar com sua essência brilhante.

E com Eliane, meu papel agora é oferecer um ombro amigo, um porto seguro onde ela possa se permitir viver o luto e encontrar conforto.

Estarei presente, sem julgamentos, apenas com amor sincero e ouvidos solícitos para quando ela estiver pronta para compartilhar seus sentimentos.

Ser médica é muito mais que tratar doenças…

É caminhar lado a lado com pessoas incríveis, compartilhando suas alegrias, vitórias, frustrações e perdas.

É um privilégio e uma responsabilidade sagrada que levo muito a sério.

Por isso, querida leitora, quero que saiba que estou aqui para você.

Não apenas para orientar sobre procedimentos ou acompanhar sua jornada de beleza exterior.

Mas, acima de tudo, para ser sua parceira, sua confidente, aquela que irá escutar com o coração quando você mais precisar.

Porque somente juntas, compartilhando esperançaamor e compaixão mútua, poderemos enfrentar qualquer desafio que a vida nos apresentar.

Com todo o meu amor, sua amiga e parceira,

Lu 🤍

P.S.: Te aguardo aqui, no próximo domingo, às 18h.

Nota de Rodapé: 
Por uma questão de privacidade e ética médica, os nomes das pacientes mencionadas nesta newsletter foram alterados para preservar suas identidades reais. Os demais detalhes correspondem a situações vivenciadas autenticamente.

Enriquecendo a alma

📚 Livro que estou lendo:
Arroz de Palma - Francisco Azevedo

🎬 Filme que recomendo:
Munique

📺 Série que estou acompanhando:
A Rainha da Trapaça de Hollywood

🎧 Artista que tenho ouvido:
The Subtle Art of Not Giving a F*ck Podcast

Quem é a Dra. Luciana Palma

Deixa eu me apresentar a você que chegou aqui agora.

Muito prazer! Sou a Luciana (Lu), cirurgiã plástica especializada em cirurgia das mamas, com mais de 21 anos de experiência na área. Formada pela UFJF em 1993, realizei residência em cirurgia geral e no INCA, no Rio de Janeiro.

Desde 2001, me dedico à Técnica de Mastopexia com cicatriz reduzida em L, buscando resultados estéticos superiores com menor invasividade.

Com mais de 5 mil cirurgias realizadas, sou preceptora de Serviços Credenciados da SBCP e coordeno o Curso Mama em L, compartilhando minha experiência com outros cirurgiões plásticos.

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