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Além da técnica: o que realmente importa nos meus 30 anos de cirurgia plástica
Faces da Beleza #035

Olá, querida leitora!
Você já teve aquela sensação de que algo parecia impossível de conquistar? Aquele objetivo que parecia tão distante que chegava a dar um frio na barriga só de pensar?
Hoje quero compartilhar com você como, às vezes, perceber algo como extremamente difícil pode ser justamente o que nos leva a alcançar resultados extraordinários.
O vestibular e o sonho de sair de Leopoldina
Quando terminei o ensino médio, eu ainda não tinha completado 18 anos.
Morava em Leopoldina, uma cidade pequena de Minas Gerais, e sonhava em me mudar para Juiz de Fora para cursar Medicina. O problema? Em Leopoldina não havia cursinho pré-vestibular, apenas um convênio do meu colégio com um cursinho de Juiz de Fora, que nos enviava apostilas e provas de simulados.
Em um desses simulados, consegui ficar na 64ª posição, o que me colocou na turma especial B (a A era só até o 50º lugar!).
Parecia bom, mas fazendo as contas, com 200 vagas para Medicina e vários outros cursinhos preparatórios na região, aquela colocação não seria suficiente para passar de primeira.
E qual seria minha opção se não passasse?
Perguntei à minha mãe se ela pagaria um cursinho para mim em Juiz de Fora, e ela disse que não.
Os planos dela para mim eram completamente diferentes dos meus: um emprego em um Posto de Gasolina (a maior empresa da cidade) e estudo por conta própria para tentar novamente no ano seguinte.
Só de pensar nessa possibilidade, eu ficava apavorada.
Não queria mais morar em Leopoldina, queria ir para a faculdade e sair de casa. E em nenhum momento pensei em trocar de curso, mesmo sabendo que Medicina era um dos mais difíceis, senão o mais difícil.
Medicina comprometeria todo o meu horário e me permitiria uma diversidade enorme de atuação (poderia ser psiquiatra, ginecologista, gestora, pediatra).
O medo como impulso para a superação
Impulsionada pelo medo de não passar e pelo desejo intenso de sair da minha cidade, eu estudei como nunca antes.
Decorei coisas que nem precisava decorar, fazia todas as provas antigas que encontrava e não me contentava com aquela colocação no simulado.
Era uma situação contraditória: ao mesmo tempo que estava em tremenda desvantagem por não ter acesso aos professores atualizados (estudava em Leopoldina, lembra?), eu tinha conseguido um resultado bastante promissor naquele simulado parcial.
Quando chegou a data do vestibular, ganhei a oportunidade de participar de um preparatório super intensivo em Juiz de Fora, na tal turma especial B.
Fui super animada, mas com medo de passar vergonha perto dos meus concorrentes que estudaram a vida toda na cidade grande.
Foi aí que aconteceu algo surpreendente: ao assistir às aulas do intensivo, percebi que meus colegas e até mesmo os professores estavam ensinando assuntos muito básicos, coisas que eu jamais imaginaria que precisassem ser abordadas a menos de um mês das provas!
Decidi então dividir meu tempo entre as aulas do simulado e o estudo sozinha em casa.
E o resultado? Fui aprovada em 17º lugar no vestibular.
Inacreditável para mim.
Percebe como ter uma percepção equivocada da dificuldade de um teste ou prova pode contribuir para que nos esforcemos mais? Foi exatamente isso que aconteceu nessa aprovação tão marcante da minha vida.
Desafios na medicina e a prova de especialista
(Vou pular a parte em que o curso de Medicina era muito mais difícil do que eu esperava e que no primeiro semestre peguei prova final logo de cara em Anatomia 3...)
Onze anos depois daquele vestibular, me vi diante de outro grande desafio: a prova para obtenção do Título de Especialista em Cirurgia Plástica.
Desta vez, minha motivação era diferente.
Não era mais o medo de não conseguir fazer uma faculdade ou mudar de cidade. Era a necessidade de me reafirmar como Especialista em um ambiente muito competitivo e pouco ocupado por mulheres.
Eu sabia que era uma boa profissional, atuava com habilidade e competência, mas precisava de uma prova mais palpável.
Passar como especialista e me colocar bem à frente de mais de 200 residentes de todo o Brasil era um sonho que agarrei com força para realizar.
Como R3 (residente do terceiro ano), eu trabalhava intensamente, frequentava congressos e reuniões, e me obrigava a estudar sobre assuntos que não faziam parte do meu dia a dia.
Nas reuniões da Sociedade de Cirurgia Plástica do Rio de Janeiro, que ofereciam oportunidades para residentes apresentarem artigos científicos, eu era sempre a primeira a me voluntariar.
Lembro-me de ter apresentado um artigo sobre detalhes técnicos da cirurgia plástica estética do nariz sem ao menos entender completamente esse procedimento quando era R2.
Eu me comprometia e depois resolvia, em noites de poucas horas de sono e com um receio enorme de passar vergonha se percebessem que meu conhecimento era exclusivamente teórico.
Meu passatempo? Livros de questões antigas de provas de especialista. Eu devorava aquele conteúdo.
A conquista que superou todas as expectativas
No dia da prova teórica, eu respondi todas as 150 questões.
Existia a possibilidade de deixar em branco caso não tivesse certeza, pois uma resposta errada anulava uma certa.
Mas eu respondi tudo, porque sabia tudo.
Na prova prática, respondia aos professores da banca com rapidez e segurança.
Tive sorte ao me perguntarem assuntos que eu já dominava. Mas como diz o ditado: a sorte acontece com aqueles que estão preparados.
E assim, passei na prova de Título de Especialista, e não apenas passei - conquistei o primeiro lugar em todo o Brasil.
Sei que isso é puro afago ao ego, e que não devemos cultivar esse sentimento. Mas hoje, aqui em São Paulo, quando acompanho os residentes do Serviço do qual sou Regente na realização dessa mesma prova, sei exatamente o que significa ser aprovado.
Sei o que significou lembrar que fui tão bem nos primeiros anos como profissional, quando ainda não tinha pacientes, quando tinha tempo ocioso e ficava lendo romances, quando aceitei um trabalho longe de casa para fazer pequenas cirurgias, muito aquém do meu potencial.
Até conseguir me sentir segura de que não faltariam oportunidades de exercer tudo que eu tinha me preparado para executar, eu afagava meu ego lembrando da conquista do Título e daquela colocação tão especial.
O poder das memórias que nos fortalecem

Escrever sobre essas conquistas me traz um sentimento de felicidade e de poder.
Essas lembranças me estimulam a buscar novos objetivos, a me aventurar em tarefas difíceis e a ter confiança em meu potencial.
Você sabe como é importante ter essas âncoras emocionais, não é? Aquelas memórias que você pode revisitar quando os desafios parecem grandes demais, quando a insegurança bate à porta.
É possível ter quase 30 anos de cirurgia plástica e continuar apaixonada pelo trabalho, comemorando conquistas de 1998 em pleno 2025.
Quero ser esse exemplo para todos que estão começando sua jornada.
Quando olho para trás, vejo claramente como cada desafio me moldou.
Como o medo de ficar presa em uma cidade pequena me impulsionou a estudar mais do que eu achava possível.
Como o desejo de reconhecimento em um campo dominado por homens me levou a me preparar exaustivamente para uma prova.
E o mais importante: como essas memórias continuam me nutrindo, me dando força para enfrentar novos desafios, para continuar evoluindo como médica e como pessoa.
Você também tem essas memórias de superação? Momentos em que você foi além do que acreditava ser capaz? Cultive-as. Revisite-as quando precisar de força. Elas são combustível para o futuro.
Além da técnica: a alma da medicina
Ao longo desses anos todos, aprendi que dominar a teoria e a técnica é fundamental, mas nunca será suficiente.
O verdadeiro diferencial está em como nos conectamos com nossos pacientes, como entendemos suas necessidades mais profundas, como respeitamos seus medos e expectativas.
A cirurgia plástica vai muito além de procedimentos estéticos.
É sobre restaurar confiança, sobre permitir que as pessoas se reconheçam novamente no espelho, sobre curar não apenas o corpo, mas também a alma.
Quando uma mulher vem ao meu consultório para uma mastopexia, não estou apenas diante de um par de mamas que precisam de lifting. Estou diante de uma história completa, de inseguranças, de esperanças, de sonhos de se sentir bem consigo mesma.
É por isso que, mesmo com toda a técnica que desenvolvi ao longo dos anos, com minha abordagem da cicatriz em L que já beneficiou milhares de pacientes, o que mais valorizo é a conexão humana que estabeleço com cada pessoa que confia seu corpo e sua autoestima a mim.
Quero que você leve isso consigo, seja qual for sua área de atuação: nunca deixe que a excelência técnica ofusque a importância da empatia.
Os conhecimentos que adquirimos, as habilidades que desenvolvemos, são apenas ferramentas para tocarmos vidas de forma positiva.
Como diria Carl Jung, em uma das minhas citações favoritas:
» "Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana."
Essa é a verdadeira essência do que faço.
E espero que, de alguma forma, minha jornada inspire você a perseguir seus sonhos com determinação, a superar seus medos transformando-os em força, e a nunca esquecer que, por trás de toda excelência profissional, deve existir um coração aberto e compassivo.
Até o próximo domingo,
Com carinho,
Dra. Luciana Palma (Lu) 🤍
Enriquecendo a alma
📚 Livro que estou lendo:
Arquitetura no Divã por Shirlei Zonis
🎬 Filme que recomendo:
Flow
🎬 Série que estou assistindo:
O Viajante Relutante
🎧 O que tenho ouvido:
Michael Singer Podcast
Quem é a Dra. Luciana Palma

Deixa eu me apresentar a você que chegou aqui agora.
Muito prazer! Sou a Luciana (Lu), cirurgiã plástica especializada em cirurgia das mamas, com mais de 23 anos de experiência na área. Formada pela UFJF em 1993, realizei residência em cirurgia geral e no INCA, no Rio de Janeiro.
Desde 2001, me dedico à Técnica de Mastopexia com cicatriz reduzida em L, buscando resultados estéticos superiores com menor invasividade.
Com mais de 5 mil cirurgias realizadas, sou preceptora de Serviços Credenciados da SBCP e coordeno o Curso Mama em L, compartilhando minha experiência com outros cirurgiões plásticos.
Para agendar uma consulta, te convido a clicar aqui.
Dra. Luciana Palma: RJ CRM 5258334-2 | RQE 17595
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