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Da obstetrícia à cirurgia plástica: os desafios da minha trajetória na medicina
Faces da Beleza #019
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Olá, minha querida!
Hoje quero te contar sobre uma parte muito especial da minha jornada: minha paixão inicial pela obstetrícia.
Quando eu estava na faculdade de medicina, adorava acompanhar as gravidinhas, observar todo o desenvolvimento do bebê e as incríveis transformações no corpo da mulher.
Eu escolhia vários estágios em maternidades e ficava ansiosa para chegar nos plantões e acompanhar os médicos especialistas — a maioria recém-formados — ocupando o plantão noturno nas unidades do sistema público.
Naquela época, eu estava decidida a me tornar ginecologista-obstetra, muito mais pela obstetrícia do que pela ginecologia em si.
Foram quase 3 anos estagiando nesta área tão bonita da medicina… E esse tempo me trouxe a certeza de que eu realmente gostava da cirurgia, que eu tinha habilidades técnicas que poderiam ser ainda mais aproveitadas, como na cirurgia plástica.
Também percebi que para ser um médico obstetra de excelência era preciso ser um excelente clínico, para se destacar nos partos de risco, além de ter muitas outras qualidades especiais, como humildade e empatia.
A parte cirúrgica é importante, sim, mas atinge um certo limite. Não me entenda mal, nada do que digo diminui o valor dessa especialidade.
Ao contrário, ser obstetra reúne conhecimento técnico em múltiplas áreas, habilidade cirúrgica, acolhimento e sensibilidade em um momento tão especial da vida.
Hoje vou te contar algumas histórias que vivenciei nessa época e como cada uma delas, à sua maneira, foi me afastando dessa vida tão cheia de emoções e me direcionando para a cirurgia plástica.
Continue lendo.
A sabedoria da paciente experiente versus a arrogância do médico novato
Querida, vou te contar sobre uma noite chuvosa de plantão que nunca esqueci.
Eu estava atendendo na emergência há alguns meses, minha função era acolher as pacientes, coletar suas histórias, fazer os exames necessários e passar os casos para os médicos mais experientes.
Naquela noite, chegou uma mulher já com 9 meses de gestação, dizendo que estava na hora do bebê nascer. Ela sentiu cólicas. Chamei o especialista porque no meu exame não vi nenhum sinal de que o parto era iminente.
O especialista confirmou minha impressão e orientou a paciente a voltar para casa, dizendo que ainda não estava na hora, que ela deveria retornar quando as contrações estivessem mais frequentes.
A paciente, uma mulher mais velha que o médico, tanto em idade quanto em experiência, olhou para ele contrariada.
Dava para ver que ela não ficou à vontade para argumentar, para dizer que sabia que iria parir em breve, que os sinais que ele não viu, ela já conhecia de 5 partos anteriores.
Com a sabedoria de quem não tem medo do próprio corpo, ela foi embora.
Quase deu tempo de ouvir o obstetra dizendo para mim que às vezes as mulheres ficam ansiosas e confundem suas percepções corporais.
Acabam imaginando que está na hora do parto e querendo convencer o médico especialista de que ele está errado. Imagina só. (rs)
Então subimos para tomar um café.
Não deu nem 30 minutos, a recepção nos chama: uma urgência, uma mulher estava dando à luz ali mesmo…
Saímos da sala de conforto médico rapidamente, mas o elevador era enorme e lento.
Corremos para lá e, para nossa surpresa, era a mesma paciente que havia sido dispensada minutos antes por supostamente estar “enxergando errado” seus sintomas.
O olhar que ela lançou ao médico foi o mesmo que certamente dava para o filho mais velho quando ele a desobedecia e acabava se dando mal.
Era aquele conhecido olhar de: “eu te disse”.
Ela não precisou falar nada, só se assegurou de que o bebê estava seguro nos braços. O obstetra ficou calado e fez o que podia ser feito.
Neste dia aprendi que o que as pessoas dizem sobre seus sintomas e sentimentos é infinitamente mais sábio do que qualquer manual médico de exame de urgência.
A paciente, certa do que ia acontecer, esperou no carro até o último minuto, talvez dando um voto de confiança ao médico.
Mas era noite, chovia, e ela já tinha se organizado em casa com os outros 5 filhos.
Quando percebeu que a vida que abrigava há 9 meses estava decidida a chegar, ela veio… Calculou mal o tempo ou o bebê se apressou, e ele nasceu ali mesmo, saudável, mas em um ambiente sem as condições ideais.
Poderia ter sido evitado.
O dia em que a dor de uma paciente me fez questionar tudo
Nem tudo são flores na vida de um médico em formação.
Há dias em que questionamos nossas escolhas, nossa capacidade, nosso propósito. Vou te contar sobre um desses dias.
Na maternidade escola de Juiz de Fora-MG (que nem existe mais), atendi uma paciente menor de idade. Não sei como, mas naquela época isto era possível.
Ela estava muito pálida, tinha 16 anos e tinha quadro de abortamento incompleto.
Já havia perdido sangue por muitos dias, aguardou uma manhã para chegar cedo no hospital, ser atendida e voltar de novo para casa.
Não poderia dormir fora de jeito nenhum. Nada do que ela estava passando poderia ser dividido com ninguém de casa. O sofrimento dela era enorme.
Estava com medo do pai, de ser expulsa da família pela gravidez não planejada, por isso induziu o aborto de forma que eu não descobri como, e foi bem sucedida em interromper a gravidez, mas era necessária uma curetagem para acabar com o sangramento.
Para ela, uma enorme cicatriz na sua alma se formava.
Ao lidar com a situação, pedi ajuda, eu não sabia o que fazer.
Queria ajudá-la, mas estava muito mais impactada com a dor psicológica do que com o risco de vida. Eu tive muita pena dela.
A assistente social foi chamada para conduzir a situação.
Aquela adolescente reunia as dores que eu sempre tive medo de ter:
Medo de contrariar meus pais,
Medo de não obedecer aos conselhos sobre comportamento sexual,
Medo da mentira,
Medo da dor de decidir pela interrupção da gravidez,
E, por fim, o medo da morte.
Um verdadeiro pesadelo era materializado ali, naquela jovem que havia acabado de conhecer.
O plantão acabou e eu não soube do desfecho.
Só reforcei mais minha crença de que a família deve ser sempre o Porto Seguro.
Ensinar, sim, mas também acolher sem julgamentos nos momentos de fragilidade a que todos estamos sujeitos. Talvez este seja o verdadeiro gesto de amor.
O dia em que entendi que a obsteria não era o meu caminho
Este terceiro caso é o mais difícil de contar.
Primeiro, esclareço que já se passaram mais de 30 anos, eu não lembro os nomes de ninguém, não lembro sequer a época do ano.
E talvez minhas lembranças sejam contaminadas por sentimentos, distorcendo os fatos. Elas envolvem erros médicos que resultaram na morte de um bebê.
No desenrolar de um trabalho de parto a termo, sem nenhuma condição complicadora, o parto parou de progredir.
A paciente já estava “no meio do caminho” para o nascimento da bebê por via vaginal e, de repente, tudo se estagnou.
Ela fazia força, usavam-se medicamentos e nada acontecia.
Quem estava conduzindo o parto era um jovem residente, excelente acadêmico e conhecido de todos, mas que sentia necessidade de provar sua capacidade impondo sua conduta.
A bebê nasceria de parto normal, ele decidiu.
A especialista obstetra responsável pelo plantão, que deveria orientar o residente, havia saído para jantar, e naquela época a comunicação era precária.
Não tínhamos como chamá-la.
O residente insistiu no parto normal e insistiu muito. Usou um fórceps.
Eu assistia a tudo aquilo assustada e acuada.
Eu sabia que tinha alguma coisa errada, mas me calei.
Finalmente, a bebe foi tirada do corpo da mãe, mas não tinha mais vida.
Um turbilhão de emoções naquela sala de parto, e nenhuma delas positivas:
O abismo de tristeza da mãe.
A decepção do residente em ter bancado algo que ele não era capaz de administrar com eficiência.
O olhar da enfermagem experiente sabendo que aquilo não precisava ter acontecido.
A raiva que me deu daquele médico e de mim mesma, por não ter conseguido gritar, mesmo sem certeza de que aquilo estava errado.
Vi aquela bebê linda, com o corpo perfeito, pronta para receber tanto amor daquela família, sem vida.
Foi colocada na mesma balança que pesava os bebês agitados, que precisavam de contenção porque era tanta vida gritando pelos pulmões, braços e pernas.
Mas desta vez a balança pesava um corpo imóvel. Ela pesou 4,100 kg.
O mesmo peso que eu tinha quando nasci.
Poderia ser minha mãe vivendo aquela dor.
Poderia ser eu.
Mas eu nunca seria a médica insensível naquele momento.
A partir daquele dia, nunca mais pensei em ser obstetra.
Mas sabe qual é a grande lição que eu tiro de tudo isso?
Eu não seria a médica e a mulher que sou hoje se não tivesse vivido cada uma dessas experiências.
Por isso, minha querida, olhe para a sua própria jornada com esses olhos.
A vida nos ensina a abraçar os desafios como oportunidades de crescimento.
Lembre-se: você é a protagonista da sua história, a autora da sua própria beleza.
E cada marca que você carrega é um testemunho da sua força, da sua resiliência, da sua capacidade de se reinventar e de florescer.
Então, minha querida, siga em frente com coragem e com graça.
Com todo o meu carinho e admiração,
Dra. Luciana Palma (Lu) 🤍
Atenção: a próxima newsletter sairá no próximo domingo, às 18h.
Enriquecendo a alma
📚 Livro que estou lendo:
Como amar uma filha, de Hila Blum
🎬 Filme que recomendo:
O Quarto de Jack
📺 Série que estou acompanhando:
Mamma Mia!, na Netflix
🎧 O que tenho ouvido:
Rivotalks, no YouTube
Quem é a Dra. Luciana Palma
Deixa eu me apresentar a você que chegou aqui agora.
Muito prazer! Sou a Luciana (Lu), cirurgiã plástica especializada em cirurgia das mamas, com mais de 21 anos de experiência na área. Formada pela UFJF em 1993, realizei residência em cirurgia geral e no INCA, no Rio de Janeiro.
Desde 2001, me dedico à Técnica de Mastopexia com cicatriz reduzida em L, buscando resultados estéticos superiores com menor invasividade.
Com mais de 5 mil cirurgias realizadas, sou preceptora de Serviços Credenciados da SBCP e coordeno o Curso Mama em L, compartilhando minha experiência com outros cirurgiões plásticos.
Para agendar uma consulta, te convido a clicar aqui.
Dra. Luciana Palma: RJ CRM 5258334-2 | RQE 17595
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