O que a cirurgia plástica realmente pode transformar

Faces da Beleza #034

Querida leitora,

Depois de quase 30 anos fazendo cirurgia plástica, já deu tempo de enxergar algumas verdades menos transitórias.

A primeira delas é o gosto pela transformação da paciente, não só no corpo, mas uma transformação de vida e de autoestima.

Sem dúvida é este o melhor momento, embora eu goste muito do ato cirúrgico em si. Mas, na cirurgia, não há interação.

Na hora da cirurgia estou ali exercendo meu conhecimento técnico, experiência, criatividade e capricho. O que também é ótimo. Mas não teria graça sem ver a consequência na vida da paciente.

De certa forma, para sentir esta satisfação, eu tenho que aceitar e estar preparada para duas situações:

A primeira delas são as intercorrências ou complicações, inerentes a qualquer procedimento médico.

Foram muitas sessões de terapia não aceitando o indissociável da condição de cirurgiã, que é ter que lidar com complicações.

E a segunda é que a cirurgia, mesmo tecnicamente bem executada, não seja para a paciente aquilo que eu gostaria que fosse: um divisor de águas, uma nova vida mais feliz e saudável.

E esta reflexão vem principalmente quando atendo mulheres em consulta que desejam muito uma transformação, que também inclui uma cirurgia plástica, mas está muito longe de ser só isso.

Quando o bisturi não é a solução completa

Dentre todas as condições que confundem a paciente e que a fazem buscar no bisturi alterações muito mais complexas está a dificuldade de emagrecer e se manter magra.

O fato de resultados incríveis após uma cirurgia plástica acontecerem em mulheres magras causa esta confusão.

Muitas pacientes com sobrepeso ou obesidade se incomodam com suas mamas, por exemplo.

Querem e desejam mamas menores e com menos flacidez, entendem que só a cirurgia plástica pode reduzir o excesso de pele, eliminar tecido mamário e gorduroso em excesso e alterar o formato e posição da aréola.

Mas, frequentemente, além destas transformações, elas desejam também que o corpo que recebe a mama menor e corrigida também fosse mais magro.

E aí está aquele desconforto que mencionei no início desta newsletter, para falar sobre um ponto muito importante no exercício da cirurgia plástica.

Expectativas vs. realidade: um desafio constante

Nesta complexa situação, a demanda pela cirurgia plástica tecnicamente bem executada eu domino. A demanda pela cirurgia plástica transformadora, em muitos casos, não sou capaz de assegurar.

Me cabe apenas a intensa explanação e tentativa de condução da paciente para este estado muitas vezes difícil de separação do desejo para a realidade.

Quando atendo mulheres com desejo de ter suas mamas modificadas, apresento inicialmente resultados de cirurgias executadas em mulheres com IMC dentro do recomendado pela OMS.

E apresento também resultados fantásticos em corpos com o IMC mais alto.

É a mesma técnica, as transformações ainda mais incríveis, a cicatriz continua sendo reduzida, em L e o feedback que recebo na maioria das vezes é: "eu quero aquele primeiro resultado que você mostrou".

Ou seja, há um caminho a ser percorrido pela paciente antes da chegada até a internação para a cirurgia plástica. Ou até mesmo depois da cirurgia já realizada.

A cirurgia como ponto de virada: para melhor ou para pior?

Uma insatisfação corporal com as mamas flácidas ou grandes pode colocar a mulher em um ponto em que a cirurgia pode impulsioná-la em uma espiral positiva ou negativa.

Após ampla demonstração de resultados e ajustes de expectativas para cada caso individualmente, a cirurgia pode ser feita ainda no sobrepeso com segurança e bem indicada.

A partir daí, corrigida a insatisfação e realizado o desejo da cirurgia, a paciente pode olhar para o resultado e achar o máximo, ficar feliz, curtir a liberdade que a correção das mamas trouxe e mudar seu estilo de vida, corrigindo seu condicionamento físico, com aumento da autoestima e confiança.

Mas o contrário pode acontecer.

Fazer a cirurgia no sobrepeso pode causar uma frustração grande não só com o procedimento em si, mas com a sensação de incapacidade diante da mudança desejada, e um mergulho na espiral do descontentamento.

O diálogo franco e honesto como ferramenta essencial

A conversa, o entendimento e o conhecimento de todos os motivadores de um procedimento cirúrgico devem ser aprofundados ao máximo, assim como a explanação de detalhes técnicos limitadores do resultado.

Como cirurgiã plástica, meu papel vai muito além de operar.

Preciso ser educadora, conselheira e, às vezes, aquela que traz a realidade quando as expectativas ultrapassam o que é tecnicamente possível.

É uma responsabilidade que carrego com seriedade, pois sei que estou lidando não apenas com corpos, mas com sonhos, autoestima e bem-estar emocional.

Para você que me lê e talvez esteja considerando uma cirurgia plástica, lembre-se: o bisturi pode transformar formas, mas não pode mudar quem você é por completo.

A verdadeira transformação vem de um conjunto de fatores – físicos, emocionais e comportamentais.

Quando alinhamos expectativas realistas com procedimentos adequados, os resultados podem ser extraordinários não apenas no corpo, mas na forma como você se relaciona consigo mesma.

E isso, para mim, é a verdadeira magia da cirurgia plástica.

Com carinho,

Dra. Luciana Palma (Lu) 🤍

Enriquecendo a alma

📚 Livro que estou lendo:
Arquitetura no Divã por Shirlei Zonis

🎬 Filme que recomendo:
A Substância

🎬 Série que estou assistindo:
O Viajante Relutante

🎧 O que tenho ouvido:
Michael Singer Podcast

Quem é a Dra. Luciana Palma

Deixa eu me apresentar a você que chegou aqui agora.

Muito prazer! Sou a Luciana (Lu), cirurgiã plástica especializada em cirurgia das mamas, com mais de 23 anos de experiência na área. Formada pela UFJF em 1993, realizei residência em cirurgia geral e no INCA, no Rio de Janeiro.

Desde 2001, me dedico à Técnica de Mastopexia com cicatriz reduzida em L, buscando resultados estéticos superiores com menor invasividade.

Com mais de 5 mil cirurgias realizadas, sou preceptora de Serviços Credenciados da SBCP e coordeno o Curso Mama em L, compartilhando minha experiência com outros cirurgiões plásticos.

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