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Quando a solução para o paciente não está na cirurgia plástica

Faces da Beleza #042

Querida leitora,

Nesta semana, quero compartilhar com você uma experiência que me marcou profundamente como médica.

Mas mais do que falar sobre procedimentos e técnicas, hoje vou te contar sobre o lado humano da nossa profissão.

Há alguns dias, recebi em meu consultório uma paciente que adiou nosso encontro por quase um ano. Ela me conhecia por ter operado sua sobrinha, mas algo a impedia de marcar a tão esperada consulta.

Quando finalmente nos conhecemos, entendi a complexidade da sua história e dos seus sentimentos…

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A solução nem sempre está no bisturi

Com 62 anos, divorciada e mãe de um único filho, essa mulher carregava em seu corpo e em seu coração as marcas de uma vida intensa.

Nos últimos 5 anos, ela havia perdido duas irmãs para doenças graves, e o luto ainda era uma presença constante. Morando sozinha, encontrou no vinho e na comida um consolo para suas dores.

Ela chegou ao meu consultório buscando uma solução para "uma barriga que não lhe pertencia". Nesses momentos, a cirurgia plástica parece a resposta mais óbvia, mas será que era realmente isso que ela precisa?

Esse primeiro contato me fez perceber que, antes de pensar em qualquer procedimento, eu precisava entender a essência daquela mulher e o verdadeiro significado do seu pedido de ajuda.

Por isso, fiz questão de conversar muito com ela durante a nossa consulta, realmente ouvi-la e conhecer mais sobre a sua trajetória.

Ela me contou que, desde a infância, sempre teve uma tendência a acumular gordura na região abdominal. Mesmo nos períodos em que esteve mais magra, o desenho da cintura nunca foi uma realidade para ela.

Ao longo dos anos, essa insatisfação com o próprio corpo a levou a buscar diversas soluções milagrosas - dietas da moda, fórmulas emagrecedoras, pílulas, chás...

Ela experimentou de tudo um pouco, sempre com a esperança de alcançar o tão sonhado corpo perfeito.

Mas, como em um ciclo vicioso, cada tentativa frustrada a fazia mergulhar novamente nos velhos hábitos… As roupas que jurou nunca mais usar voltavam a sair do fundo do armário, e a sensação de fracasso só aumentava.

Agora, diante de mim, ela finalmente havia criado coragem para buscar uma solução definitiva. A cirurgia plástica parecia ser a única saída para se livrar daquilo que achava não lhe pertencia.

Ouvindo sua história, pude perceber que, mais do que uma questão estética, aquela paciente carregava um profundo descontentamento com sua imagem corporal.

Isso, leitora, é algo que nós, cirurgiões plásticos, precisamos estar sempre atentos.

Será que a cirurgia, por si só, seria capaz de preencher o vazio que ela sentia? Ou havia algo mais profundo a ser trabalhado?

Quando tentamos encurtar caminhos

Durante nossa conversa, uma frase dita pela paciente me fez refletir profundamente. Ela mencionou que já havia procurado outro cirurgião no ano anterior, mas ele a alertou sobre a necessidade de perder peso antes de qualquer procedimento.

Ela me disse:

"Eu vim aqui te dizer que eu abro mão deste sonho. Eu sei da limitação, e só quero melhorar. Pode me operar."

Essa fala tocou meu coração e me fez perceber o quanto, muitas vezes, buscamos soluções rápidas para nossos problemas mais profundos - mesmo sabendo dos riscos, estamos dispostos a encurtar caminhos para fugir da dor e do desconforto.

Como médica, meu papel é olhar além do desejo imediato e entender as reais necessidades dos meus pacientes. Naquele caso específico, ficou claro para mim que a cirurgia plástica não seria a solução mágica que ela tanto buscava.

Imagine que você tem uma planta em casa que está murchando.

Você poderia simplesmente podar as folhas secas e esperar que ela voltasse a ficar bonita, certo? Mas, se o problema estiver na raiz, nenhuma poda será capaz de reviver essa planta.

O mesmo acontece conosco.

Quando tentamos resolver questões emocionais complexas com soluções superficiais, estamos apenas podando as folhas, sem cuidar da raiz.

Naquele momento, eu entendi que meu papel como cirurgiã plástica era muito maior do que simplesmente atender ao pedido da paciente. Eu precisava ajudá-la a olhar para suas dores e encontrar o caminho da cura verdadeira.

Cirurgiã plástica sim, mas médica antes de tudo

Leitora, ser cirurgiã plástica é, para mim, muito mais do que realizar procedimentos estéticos.

É ter a oportunidade de transformar vidas, de devolver a autoestima e de ajudar as pessoas a se reconectarem com a melhor versão de si mesmas.

Mas, para isso, é fundamental que nós, profissionais da área, tenhamos um olhar amplo e empático. Precisamos enxergar o ser humano por trás de cada queixa, de cada insegurança e de cada desejo de mudança.

No caso dessa paciente, eu sabia que a cirurgia plástica não seria a resposta para suas dores mais profundas.

Meu papel, naquele momento, era ajudá-la a ressignificar sua relação com o próprio corpo e a encontrar a verdadeira fonte da sua insatisfação.

Confesso que encaminhar um paciente para atendimento psicológico ou psiquiátrico nem sempre é uma tarefa fácil. Alguns podem interpretar isso como uma desvalorização da sua queixa ou até mesmo como um julgamento.

Mas, ao longo dos meus anos de experiência, aprendi que cuidar do outro é, acima de tudo, um ato de amor. E, quando fazemos isso com ética, empatia e responsabilidade, os resultados são transformadores.

Naquela consulta, tive a oportunidade de ser muito mais do que uma cirurgiã plástica. Pude ser uma médica no sentido mais amplo da palavra, alguém capaz de enxergar além do óbvio e de oferecer um caminho de cura verdadeira.

E é assim que eu enxergo a beleza da nossa profissão.

Uma beleza que vai muito além do bisturi e dos procedimentos estéticos. Uma beleza que tem o poder de transformar olhares e, consequentemente, transformar vidas.

Eu não sei o que essa paciente decidiu fazer depois que saiu da minha consulta, mas eu espero que o profissional que ela escolha tenha a sensibilidade e profissionalismo para despertar a mulher segura, com autoestima e fortalecida por tantas dores, que com certeza habita dentro dela.

Querida leitora, espero que essa reflexão tenha tocado seu coração assim como tocou o meu. Mais do que compartilhar uma experiência pessoal, meu desejo é inspirar um novo olhar sobre a cirurgia plástica e sobre a relação que temos com nossa própria imagem.

Vivemos em uma sociedade que valoriza a beleza externa acima de tudo. Somos bombardeadas diariamente com imagens de corpos perfeitos e com a ideia de que a felicidade está diretamente ligada à aparência física.

Mas, como médica e como mulher, eu quero te convidar a olhar para além dessa superfície. Quero te encorajar a mergulhar em suas próprias profundezas e a descobrir a verdadeira fonte da sua beleza.

Porque, acredite, você é muito mais do que um corpo. Você é uma alma única, com uma história, com desejos e com um propósito neste mundo.

Meu compromisso como cirurgiã plástica é cuidar de você por inteiro. É olhar para suas queixas com empatia e responsabilidade, e te ajudar a encontrar o melhor caminho para a sua realização pessoal.

Seja através de um procedimento estético, de um encaminhamento para terapia ou de uma simples conversa acolhedora, o meu objetivo é sempre o mesmo:

Te ajudar a ressignificar sua relação com a beleza e a encontrar a melhor versão de si mesma.

Afinal, a verdadeira transformação não acontece sob a lâmina de um bisturi. Ela acontece quando mudamos nosso olhar sobre nós mesmas e sobre a vida.

Nos vemos na próxima semana.

Com carinho,

Dra. Luciana Palma (Lu) 🤍

Enriquecendo a alma

🎬 Filme que recomendo:
Homem com H

🎬 Série que estou assistindo:
O Viajante Relutante - Apple TV

🎧 O que tenho ouvido:
Michael Singer Podcast

Quem é a Dra. Luciana Palma

Deixa eu me apresentar a você que chegou aqui agora.

Muito prazer! Sou a Luciana (Lu), cirurgiã plástica especializada em cirurgia das mamas, com mais de 23 anos de experiência na área. Formada pela UFJF em 1993, realizei residência em cirurgia geral e no INCA, no Rio de Janeiro.

Desde 2001, me dedico à Técnica de Mastopexia com cicatriz reduzida em L, buscando resultados estéticos superiores com menor invasividade.

Com mais de 5 mil cirurgias realizadas, sou preceptora de Serviços Credenciados da SBCP e coordeno o Curso Mama em L, compartilhando minha experiência com outros cirurgiões plásticos.

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