Uma Jornada Inesperada: Quando a Vida nos Surpreende

Faces da Beleza #033

Querida leitora,

Hoje quero compartilhar com você uma história muito pessoal. Uma história que mudou completamente minha perspectiva sobre a vida e que, coincidentemente, completa 5 anos neste mês de fevereiro.

Era uma sexta-feira, dia 14 de fevereiro de 2020. Como de costume, cheguei cedo à academia, ansiosa para garantir minha vaga na aula de spinning das 6h.

Naquela época, ainda fazíamos as reservas em um livrinho, nada de aplicativo.

Subi empolgada para o terceiro andar, procurando minha bike preferida - aquela próxima à janela, bem embaixo do ar condicionado.

Mas ela estava com uma plaquinha de "em manutenção".

Mal sabia eu que aquela plaquinha seria um símbolo tão significativo para o que estava por vir naquele dia. Era o dia da minha cirurgia de lobectomia pulmonar esquerda, um procedimento para tratar um tumor carcinóide no pulmão.

Inacreditável, não é? Era exatamente o que eu pensava.

Aos 50 anos, sem nunca ter fumado (apenas exposta à fumaça do bisturi elétrico por vários anos), eu desenvolvi um câncer de pulmão.

A DESCOBERTA - QUANDO A MÉDICA VIRA PACIENTE

Você já parou para pensar como é estar do outro lado do diagnóstico?

Como médica, eu estava acostumada a dar notícias difíceis, mas receber um diagnóstico de câncer de pulmão aos 50 anos foi algo que nunca imaginei.

O câncer de pulmão é o que mais mata entre todos os tipos de câncer. Em geral, tem o pior prognóstico.

O tratamento é difícil e muitas vezes ineficaz na cura, porque as metástases são rápidas e frequentes. Mas o tipo histológico do meu tumor é raro e de crescimento muito lento, diferente da maioria. Por isso estou aqui hoje, 5 anos depois, contando isso pra vocês.

Tudo começou com duas pneumonias em um intervalo muito curto - julho e dezembro de 2019. Para alguém ativa como eu, sem fatores de risco evidentes, aquilo era um sinal de que algo não estava normal.

Foi quando uma tomografia computadorizada do tórax, realizada em 3 de janeiro de 2020, revelou um tumor de 3 cm.

Curiosamente, o diagnóstico me trouxe uma certa tranquilidade. Fazendo uma retrospectiva, percebi que há pelo menos três anos eu não me recuperava totalmente de gripes e resfriados.

Aquela tosse persistente que eu atribuía à sinusite começou a fazer sentido.

Me apeguei a um fato importante: se os sintomas existiam há tanto tempo e o tumor tinha apenas 3 cm, só poderia ser um tumor de crescimento lento.

E era exatamente isso - um tipo raro de tumor carcinóide, que representa apenas 2% dos tumores pulmonares, com tratamento exclusivamente cirúrgico. Não tem quimio, nem radioterapia.

Como médica e agora paciente, tomei uma decisão importante: compartilhei o diagnóstico apenas com meu marido Valter e com as pessoas estritamente necessárias para os procedimentos burocráticos.

Afinal, administramos pior o sofrimento de quem amamos do que o nosso próprio.

PREPARAÇÃO PARA A CIRURGIA - QUANDO CADA MOMENTO CONTA

O tempo entre o diagnóstico e a cirurgia foi intenso.

Enquanto aguardava as autorizações do plano de saúde e organizava a documentação necessária, decidi que não deixaria o medo me paralisar.

Após confirmar que a doença estava restrita ao pulmão, sem comprometimento de linfonodos, meu medo da morte diminuiu.

Porém, surgiu uma nova preocupação: e se minha capacidade respiratória ficasse comprometida? Como seria minha vida sem poder correr, fazer trekkings ou praticar as atividades que tanto amo? Como um peixe fora d'água.

As pesquisas na internet sobre vida pós-lobectomia pulmonar não eram muito animadoras. Mas decidi tomar as rédeas da situação.

Consultei um centro de reabilitação cardiológica e segui à risca as recomendações: ganhar peso e fortalecer a musculatura.

Contratei um personal trainer e, até hoje, tenho memórias daquela esteira diferentona onde ele me fazia dar tiros de alta intensidade.

Em meio a tudo isso, tinha uma viagem de férias marcada com meu filho e minha nora.

Decidi não cancelar e não contar nada durante a viagem.

Foi uma experiência única - cada segundo ganhou um novo significado. Os pores do sol pareciam mais intensos, os momentos mais preciosos.

Lembro-me de comprar halteres em Miami para manter meus treinos, para a surpresa da minha nora que não entendia porque eu estava tão focada em exercícios durante as férias.

Entrava nas lojas e era tudo sem sentido. Não queria comprar nada, diferente das outras vezes. Tinha alguns momentos de tristeza e medo, mas poucos.

As noites eram diferentes. Tomava indutor do sono regularmente desde o diagnóstico – sabia que precisava estar descansada para tomar as melhores decisões possíveis durante o dia e não podia perder noites de sono preocupada.

O DIA DA CIRURGIA - TRANSFORMANDO MEDO EM ESPERANÇA

Naquela sexta-feira de fevereiro, o ritual pré-cirúrgico foi meticulosamente calculado.

Depois da aula de spinning, voltei para casa, tomei banho, organizei minha mochila e calculei exatamente quando poderia tomar meu último gole de água de coco - a única bebida permitida no jejum.

Sabe aquela plaquinha de "em manutenção" da bike? No final da aula, quando todos já tinham saído, coloquei-a no pescoço como um colar.

Era como se aquele pequeno gesto simbolizasse que eu também estava "em manutenção", prestes a passar por um reparo necessário.

O câncer de pulmão carrega estatísticas assustadoras – é o tipo que mais mata entre todos os cânceres, geralmente com prognóstico reservado e tratamento desafiador.

Mas meu caso era diferente, especial. Era um daqueles 2% de tumores de crescimento lento, e isso me dava esperança.

Como cirurgiã, eu sabia exatamente o que estava por vir. Como paciente, precisei confiar nas mãos de outro profissional. E que alívio poder dizer que estava nas melhores mãos possíveis.

RECUPERAÇÃO E RENASCIMENTO - QUANDO O CORAÇÃO CRESCE

O despertar no CTI foi surpreendente. Sem dor, com meu marido ao lado, minha primeira ação foi fazer uma videochamada para meus pais ansiosos em casa.

Ver seus rostos se iluminando com meu sorriso foi um dos momentos mais especiais daquela jornada.

Mas foi no primeiro desafio pós-cirúrgico que tive a certeza de que tudo ficaria bem.

O banheiro da UTI ficava longe do meu leito, e mesmo com soro e drenos, dei meus primeiros passos. Foi ali, naquela pequena caminhada, que percebi: não sentia falta daquele pedaço do pulmão. Meu corpo já estava se adaptando perfeitamente.

A recuperação foi além das expectativas. Apenas quatro dias depois da cirurgia, adaptei minha fisioterapia respiratória durante um mergulho na piscina do clube.

Aquele sorriso embaixo d'água, percebendo que estava curada e bem, foi completamente diferente do sorriso nervoso do dia da cirurgia.

Hoje, 5 anos depois, posso dizer que a manutenção deixou apenas uma sequela: meu coração ocupa um espaço muito maior dentro do peito - e não, não estou falando anatomicamente. É um coração que aprendeu a valorizar cada respiração, cada momento, cada abraço.

Hoje, quando olho para aquela plaquinha de "em manutenção", sorrio.

Às vezes, precisamos passar por manutenções na vida para nos tornarmos versões mais fortes e gratas de nós mesmas.

Com carinho,

Dra. Luciana Palma (Lu) 🤍

Enriquecendo a alma

📚 Livro que estou lendo:
Não fossem as sílabas do sábado por Mariana Salomão Carrara

🎬 Filme que recomendo:
Here

🎬 Série que estou assistindo:
Bad Sisters

🎧 O que tenho ouvido:
Michael Singer Podcast

Quem é a Dra. Luciana Palma

Deixa eu me apresentar a você que chegou aqui agora.

Muito prazer! Sou a Luciana (Lu), cirurgiã plástica especializada em cirurgia das mamas, com mais de 23 anos de experiência na área. Formada pela UFJF em 1993, realizei residência em cirurgia geral e no INCA, no Rio de Janeiro.

Desde 2001, me dedico à Técnica de Mastopexia com cicatriz reduzida em L, buscando resultados estéticos superiores com menor invasividade.

Com mais de 5 mil cirurgias realizadas, sou preceptora de Serviços Credenciados da SBCP e coordeno o Curso Mama em L, compartilhando minha experiência com outros cirurgiões plásticos.

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